quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cotas, ensino médio, vestibulares, e suas inutilidades

Notícia batida, mas se você vive no Acre, ou nos confins dessa galáctea, não deve saber que semana passada o Senado aprovou o projeto que reserva 50 % das vagas das Universidades Federais e escolas técnicas do país, despertando grande polêmica, indignação,  aplausos, e toda sorte de sentimento.
Sim, todo mundo sabe que a qualidade da educação é que precisa melhorar. E isso levaria o quê  se as devidas medidas já estivessem sendo tomadas desde já? 20, 30 anos. O que fazer com todo o contingente de alunos oriundos de escolas públicas existentes? Pedir pra esperar até que a educação melhore, ou reconhecer que há desigualdade no ensino de um escola particular e pública, assim como em todo o contexto da vida desses alunos que estudam nessas duas diferentes redes? Tem outra medida melhor a curto prazo que não envolva reconhecer isso, e dar lugar a alunos inteligentes e capazes de ingressar no ensino superior, mesmo que seu desempenho no vestibular não tendo sido superior a de alunos que estudaram a vida toda pra isso? O ideal era que todo mundo pudesse ter acesso a uma educação gratuita de qualidade e que quem passasse no vestibular, passasse por 'mérito'. Mas é só o ideal.

'Mérito', assim, entre aspas, por 2 motivos:

 1)Eu realmente não vejo tanto mérito assim em se passar no vestibular. 
O vestibular tal qual como conhecemos, não passa de um sistema que preza a decoreba e desvaloriza  a  inteligência e raciocínio lógico, forçando alunos a 'aprenderem' milhares de coisas inúteis que nossa memória humana fará questão de deletar em meses. Fazendo com que todo ensino médio, principalmente o de escolas particulares, seja voltada pra aprovação nesse. Resultado: Um ensino médio sobrecarregado,  que explora uma abundancia  de conteúdos, sem muita profundidade, sem jamais ajudar os alunos a desenvolver e trabalhar o raciocínio lógico, porque o vestibular não preza isso. E, acredito que o MEC, notando isso,propôs um novo currículo do ensino médio. Você podem conferir como ficará o currículo aqui. Eu torço pra que ele seja aprovado, porque ele ira desenvolver um ensino menos fragmentado,
interdisciplinar. Chega desse ensino que tira os assuntos abordados de todo o contexto, que nos tira a visão holística do conteúdo. Se você for em uma sala de aula do ensino médio, verá que a dúvida que mais permeia a cabeça dos alunos é pra quê que servirá aquilo. Acredito que uma abordagem mais interdisciplinar e uma revisão do que será proveitoso explorar ou não no ensino médio, sanará essa angústia que a maioria dos alunos tem. 

2)Nós não temos essa educação de qualidade. Não há mérito algum em se ganhar uma corrida quando o ponto de partida de um foi a frente do outro. Como dizem, não há meritocracia sem igualdade de pontos de partida. A realidade de um aluno de escola pública é completamente diferente da de um aluno de escola particular. Um aluno que tem acesso a cursinho, boas escolas com educação voltada pra aprovação no vestibular, toda sorte de material didático disponível, e tempo pra estudar, tem chances mil e uma vezes maiores de ser aprovado que aquele que teve a vida acadêmica marcada por greves, falta de material didático, e falta de tempo pra se dedicar exclusivamente aos estudos, tendo, muitas vezes, que conciliar os estudos com trabalho/estágio. Não há como negar que não há oportunidades iguais.  A maioria acredita naquele velho clichê hollywoodiano de que se você quiser muito algo, se esforçar, os astros conspirarão a seu favor e tudo dará certo, mas a vida real é bem diferente. Esforço não significa vitória, e o melhor que um estudante de escola pública pode fazer no contexto social que vive,  não é igual ao melhor que um estudante de escola particular, que tem um ensino voltado pra a aprovação no vestibular, pode fazer. Sim, existem exceções, mendigos que passaram na USP, em excelente posição e seilá o quê, mas eles são exceções.   80% dos alunos brasileiros estudam em escola públicas, apenas 20% estudam em particulares. Mesmo os alunos de escolas públicas sendo maioria, curiosamente, observa-se a predominância de alunos oriundos de escolas particulares nas universidade públicas que não haviam aderido ao sistema de cotas. Será porque é porque essa imensa maioria de alunos é burra, incapaz, não se esforça? Ou será porque a esses 20% desfrutam de um ensino voltado para aprovação no vestibular, enquanto os 80% tem uma educação decadente. Não dá pra fechar os olhos pra isso. Se uma minoria se torna maioria em um espaço como as universidades é porque há algo errado nesse sistema. Aprovar as cotas é reconhecer que há desigualdes. É tentar corrigí-las. Sim , a grande solução está na melhoria da educação como um todo,
mas enquanto isso não chega, o que faremos? Fingir que vivemos em uma real meritocracia e encher as universidades públicas de pessoas que estão lá principalmente porque tiveram dinheiro pra financiar o custo de chegar lá?Porque como a educação se tornou um grande comércio, onde escolas e cursinhos faturam rios de dinheiro ensinando mil e uma decorebas em cima da promessa de aprovar no sonhado vestibular, acaba aprovado quem pode pagar mais. E quem não teve o luxo de estudar em boas escolas, ter cursinho, como a maioria dos alunos brasileiros, acaba dançando. 
Não, meus caros, isso não é uma meritocracia. 
E antes que caiamos na falácia de que cotas baixarão o nível das universidades, isso é uma inverdade. Estudos em universidades como a UFRJ, que adotaram esse sistemas há alguns anos, mostram que o desempenho de cotistas é similar ou até superior ao de não cotistas. Há um nível elevado de evasão nos primeiros semestres, mas os que ficam tende a acompanhar o ritmo. 
E não vejo injustiça alguma com cotas, já que na prática, alunos oriundo de escolas particulares, competirão com alunos que tiveram as mesmas oportunidades, e alunos que teve acesso a um ensino semelhante em deficiências e qualidades. Cada grupo acaba competindo entre si.
Bem, e vocês? O que acham das cotas, dos vestibulares, do ensino médio, da Vida, do Universo e Tudo o Mais?

Obs: Hoje é aniversário de uma garota  DEEWÉRRIMA, que escreve  textos bíblicos, discute sobre todo tipo de coisa, e que ensinou muita coisa pra gente aqui da equipe do chá. Claro que tô falando da Luna <3 b="b">
Desejo a você, Luna,  assim como, acredito que todas as meninas do chá e leitoras, tudo de bom : Saúde, dinheiro, glamour, sexo e dels no coração Q

12 comentários:

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    1. Naty, há décadas convivemos com a decadência do ensino público, se quase nada foi feito até então, e se não for feito mais nada daqui pra frente, é porque desde agora já não estamos fazendo nada.
      Se uma medida à curto prazo se tornar a única tomada,a culpa será de todos por não cobrar melhorias definitivas.
      E pela Constituição Federal (Capítulo III, Seção I do Título VIII), e sua emenda de 2009, ainda haverá obrigação do Estado de promover uma educação de qualidade assegurando melhorias, exigindo, inclusive, um investimento proporcional ao PIB. Cotas é uma medida melhor que a completa inércia.

      Quanto ao nível, reconheço que isso realmente dependerá muito da área. Tem áreas que exigem mais conhecimento prévio, e tem outras cuja necessidade do ensino médio é uma verdadeira piada, mas no geral, o que se provou em universidades que aderiam o sistema de cotas há anos, foi que o nível doas cotistas tende a ser igual, ou até mesmo superior ao de não cotistas.
      E o vestibular, não é o melhor critério de seleção que existe. O primeiro colocado não será necessariamente o melhor aluno, ou mesmo o melhor profissional, e os 'conhecimentos' que ele testa na sua imensa maioria são coisas desnecessárias que os alunos 'aprendem' pra memória deletar em questão de meses, sendo muita coisa descartada quando se entra na faculdade. A frase mais famosa que alunos que seguem exatas é ''esqueçam tudo que viram no ensino médio', isso porque a própria abordagem do EM é superficial, não faz grande diferença na prática.

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    2. O vestibular pode não ser o melhor critério de seleção de existe, mas ao mesmo tempo não existe um processo seletivo perfeito. Por que não focar as mudanças na prova do vestibular em vez de alterar a dinâmica da entrada dos concorrentes? Se a prova é focada no conteudismo, por que não começar a avaliar habilidades cognitivas, por exemplo, em vez de ter mil matérias no currículo? O MEC tem autoridade para definir os parâmetros do que cai e do que não cai nos vestibulares/ENEM. Seria não só mais justo como manteria a seleção a partir de capacidades que serão exigidos no ensino superior. Não se pode ignorar que durante o fundamental e o médio o aluno desenvolve um raciocínio lógico que será essencial mais tarde, portanto deveríamos dar atenção a esse tipo de pensamento em vez de decorebas de questões.

      Outro problema em relação à situação do estado do RN fica por parte do Instituto Federal. Em todos os vestibulares o IFRN ficava em primeiro lugar na colocação geral, e ainda recebia a bonificação do argumento de inclusão citado pela Naty. Agora com as cotas ele concorrerá apenas com outras escolas públicas. O primeiro lugar dos anos anteriores não terá mais as particulares como concorrentes, terá apenas escolas municipais e estaduais que não aprovam nem 30% dos alunos (contra os ~56% do IFRN). A dominação do instituto vai ser muito prejudicial aos alunos da rede pública que não tem preparo suficiente, mas todos sabemos que não vão tirá-lo do sistema das cotas. Não vão porque tudo no República das Bananas vira injustiça e os alunos de lá virariam os novos coitadinhos do momento.

      Tentar corrigir o erro da educação apenas no topo é querer gastar pouco e fazer demagogia. Em vez de se preocupar com os alunos que chegam ao ensino médio que mal sabem ler, preferem jogar para as universidades a responsabilidade de ensinar o básico a eles. Em vez de se preocupar com a alta evasão nos primeiros anos, preferem tentar empurrar aqueles que estão no último ano da escola. Em vez de se preocupar com o tanto de analfabetos funcionais que não tiveram ensino de qualidade quando crianças, preferem se preocupar com a minoria que alcança o fim da escola. Não dão atenção ao ensino ->fundamental<- (olhe bem o adjetivo) e acham que magicamente todas as pessoas deveriam ingressar no ensino superior. E como fazer isso? Empurrando os alunos até lá, ignorando a autonomia das universidades, distorcendo os processos seletivos e pior, não resolvendo de fato as desigualdades.

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    4. (Não sou seu pai hahaha Eu teria só uns dois ou três anos quando você nasceu, isso seria meio perturbador @_@ Vou tentar botar um apelido aqui)

      Acho que a questão nem chega ao ponto de profissional ser bom ou ruim, fica antes disso. Se tem pessoas com potencial que não estão entrando na universidade, o vestibular é que precisa ser refeito e reavaliado, porém ainda assim precisa ser mantido.

      O problema é que as pessoas confundem demais os pontos. A universidade PRECISA ser uma elite, mas uma elite intelectual. Não é qualquer um que pode entrar (pelo simples fato que não há vagas para toda a população), logo tem de haver uma escolha entre os candidatos. A elitização é de conhecimento, não de renda, por mais que essas condições financeiras ajudem na aprovação. A universidade não quer saber se a pessoa é pobre ou rica, negra ou branca, índio ou estrangeiro. O que ela quer é pegar, dentre todos esses grupos, os melhores para as funções do ensino superior (ensino, pesquisa e extensão).

      Quer um exemplo de cursos que prejudicam para caramba quando entram pessoas pouco capacitadas, independente de virem de escolas públicas ou não? Os cursos de licenciatura. Não são graduações difíceis, e mesmo alguém mal preparado consegue entrar, já que algumas tem concorrência baixíssima. E o que acontece quatro anos depois? Essa mesma pessoa vai dar aula lá no ensino médio, lecionar porcamente e perpetuar o ciclo distorcido da nossa educação.

      Cabe à universidade dizer sim ou não para as pessoas capacitadas, independente de onde elas vieram ou da cor que elas são - e não o contrário, dizer sim para a cor e ignorar seu potencial. Só não fale que os vestibulares têm notas mínimas porque elas são completamente absurdas, um aluno de primeiro ano consegue alcançar esse mínimo e isso contradiz totalmente a ideia de que precisamos de ensino médio para fazer vestibular.

      Não é papel da universidade fazer justiça social nem de tentar corrigir a educação básica. Ela é uma instituição de nível superior que não pode banalizar a entrada de pessoas nem ficar com disciplinas, cursinhos e projetos internos para nivelar os alunos (alunos desnivelados simplesmente não deveriam estar lá dentro, deveriam ser cortados pelo vestibular).

      Já não basta a falta de profissional competente em diversas áreas, agora a universidade precisa incluir todo grupo étnico-social só para satisfazer uma tal de "igualdade" que não resolveria problema algum?

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    5. Naty, se um aluno conseguiu se formar no curso, não vejo porque hesitar. Digo, ele pra se formar conseguiu acompanhar o curso, como todos os demais que se formaram.
      O ensino do ensino médio é bastante superficial, apesar de tudo, ele não explora profundamente os conteúdos( sobretudo pela grande abundância de assuntos, o que me faz apoiar totalmente o novo currículo proposto pelo MEC) , principalmente em exatas e ciências biológicas.

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  2. Dan, elitização do conhecimento: o vestibular não cobra conhecimento, sim decoreba. As universidades mas conceituadas do mundo não cobram vestibular, valorizam o histórico acadêmico do aluno. A própria seleção dessa 'elite' intelectual no Brasil, é questionável.
    E a partir do momento que as universidades em questão são mantidas com o dinheiro público, não se deve esquecer da responsabilidade social que ela tem.

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    1. Naty, mas o que fazer enquanto a melhora não vem? Ignorar que pessoas inteligentes e capazes não team acesso a universidade apenas porque não teve a oportunidade de ter um desempenho melhor em uma prova como o vestibular? Não vejo medida mais justa a curto prazo.
      E esse 'alguns',são maioria. A aprovação no vestibular se tornou uma mercadora vendida por escolas e cursinhos, e não está ligada apenas a inteligência.
      As cotas reconhecem a discrepância que há no ensino público e particular, e que a 'competição' não estava sendo justa pra um dos lados, e tenta equilibrar isso.
      Dan, se tratando de educação, todos devem olhar o cunho social que ela tem. Ela é o caminho pra melhorias toda a sociedade. Os alunos que entram por cotas, são os mais qualificados das escolas públicas para essa aprovação.

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  4. Não tem como comparar o Brasil com as universidades mais conceituadas do mundo, a situação aqui é completamente diferente. O vestibular, como eu já disse, é necessário no nosso cenário, embora possa estar sendo mal aplicado.

    Em uma matéria do Estadão sobre diferença de notas entre brancos da particular e negros da pública, constatou-se que a diferença era significativamente menor nas provas de redação. Segundo o professor da USP, "a redação não mede um conhecimento momentâneo, mas um conhecimento calcado na experiência de vida, até mesmo na luta contra as contrariedades. O texto avalia competências que outras matérias não avaliam." (link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,aluno-branco-de-escola-privada-tem-nota-21-maior-que-negro-da-rede-publica-,915263,0.htm)

    É assim que deveria ser o vestibular. Ao elaborar questões que consigam abranger tais competências, ficam dispensadas essas medidas que visam a igualdade. Reconhecer que o vestibular precisa ser mudado é admitir que as cotas não são a solução ideal para o problema.

    E complementando: ter responsabilidade social não significa ser obrigada a adotar medidas que tiram a autonomia da instituição, como é o caso da lei das cotas. O papel da universidade é selecionar os melhores do ensino médio e colocá-los lá dentro, somente isso. A universidade não tem como ficar olhando para os outros níveis de ensino nem tentando corrigir desigualdades sociais, ela está lá para formar profissionais e só.

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