sábado, 4 de agosto de 2012

O nosso horrendo, limitado e inalcançável padrão de beleza


O nosso padrão de beleza diz o seguinte: que mulher bonita tem que ser magra, branca, de cabelo liso. Só que o magra, não é qualquer magra, tem que ter barriga chapada barriguinha não pode, você pode vestir 36, mas se tiver barriga saliente, lamento, você é gorda; mas só barriga chapada também não basta, tem que ter peito, bunda, coxas grossas. Tudo isso, e neco de celulite, estria, culotes e afins. O branca também não pode ser qualquer branca, tem que ser o tom de branco meio bronzeado, ou que favoreça isso. O padrão de beleza é tão exigente que cria uma legião de mulheres inseguras e com baixa auto-estima, que vivem atrás da dieta mágica, ou métodos pra corrigir supostas imperfeições, se submetendo a processos cirúrgico, onde há sempre risco, em nome da de um padrão de beleza inalcançável. Doenças como bulimia e anorexia começam na faixa de 10 a 19 anos. Sim, vivemos em uma sociedade que faz crianças de 10 anos se sentirem tão mau consigo mesmas a ponto de vomitar o que ingere ou não comer. A mesma sociedade que faz crinças de 9/10 anos querem se submeter a alisamentos com com química, por estarem insatisfeitas com seus cachinhos. Como não conseguiria falar sobre isso sem dar ao menos um exemplo partindo de minha experiência pessoal, vamos lá: Minha prima, pouco antes do seu 1o° aniversário, decidiu que queria como presente uma escova progressiva. E eu nem estranhei o fato dela querer isso; o que mais eu estranhei foi o fato da minha família ter se chocado tanto por ela querer isso, e ter feito toda uma campanha pra ela não fazer. Esclarecendo: ela tem uma irmã, que tem o cabelo liso, ligeiramente ondulado, o tipo de cabelo que uma
família como a minha considera 'bom', e que nunca teve muito receio em fazer comparações com os rebeldes cachos dela, ou no bom português da minha família, o cabelo 'ruim' dela. Toda campanha que todo mundo lançou em prol da manutenção dos cachinhos dela só conseguiu tapeá-la por mais um ano, já que no seu 11°aniversário, ela convenceu minha tia a deixar ela alisar os cabelos.

Tudo que eu vejo, mesmo ela ainda sendo muito nova é que ela é apenas mais das garotas que foi convencida de que há algo errado errado com sua aparência, que nunca questionará o porquê de haver o conceito de 'cabelo bom' e 'cabelo ruim', que nunca verá o quanto o 'cabelo ruim' dela era lindo, e futuramente, talvez se renderá a outras loucuras pra se encaixar em padrões, como fazer dietas radicais, colocar silicone, ou qualquer outro ato desesperado pra se encaixar, que julgará o mundo através desses conceitos, que nunca verá beleza em pessoas gordas, negras, ou de 'cabelo ruim'. Talvez se torne o tipo de pessoa que fala 'OHH fulano, você ficaria tão bonito se fizesse uma dieta, ou se pranchasse o cabelo'', fazendo ir abaixo qualquer resquício de auto-estima que a pessoa possa ter.
E de certo modo, nunca poderei culpá-la. Não só porque ela cresceu ouvindo que seu cabelo é ruim, mas também porque ela, como quase todas as crianças de nossa sociedade, cresceu sendo bombardeada pela mídia , com suas massa de atrizes magras de cabelo liso, um ou outro programa de tv, ou revistas sugerindo dietas incríveis, para ter o corpo perfeito, cercada de pessoas que superestimam a beleza.

Não sei quando a sociedade se tornou tão insana.
Eu gostaria que as pessoas pudessem ver beleza nas mais diversas formas e cores. E acho isso possível. Os conceitos de beleza são construídos socialmente. São mutáveis e subjetivos. Tailândia por exemplo, o bonito é ter um pescoço longo, tanto que as mulheres, sim, sempre as mulheres, usam argolas para esticá-lo o máximo possível, ou na China antiga, onde a tradição era as mulheres espremerem seus pés nos sapatos, para ficarem o mais pequeno possível, a custo da deformação deles. Para os povos islâmicos, de algumas tribos africanas, ou mesmo pros europeus do século XIX, mulheres rechonchudas eram bonitas e saudáveis. Sim, todas as sociedades constroem seus modelos de beleza, pautados muitas vezes em discriminação física e social, sendo instrumento de opressão a mulheres( coisa que adoraria falar aqui agora, mas um dia, quando eu terminar de ler O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, talvez eu poste uma resenha aqui, e fale sobre isso) , e eu não entendo porque que ele ainda é tão limitado. Por que para as pessoas vários tipos de beleza não podem coexistir? Serem valorizados? Você pode bater na tecla do gosto pessoal, mas a verdade é que não há de fato gosto pessoal, quando se vem de uma sociedade racista, manipuladora, que bombardeia você desde sempre com imagens e referências do seu próprio padrão, se você não parar pra refletir sobre seu suposto gosto, rever os conceitos. Talvez, se você tentasse parar pra ver beleza em formas diversas, você também, passaria a ver em si mesmo, caso você não consiga ver E mesmo que você mantenha os mesmos conceitos, tente ao menos tirar seu padrões dos corpos alheios. Ninguém tem que emagrecer , tem que se maquiar, tem que ter o cabelo assim ou assado pra agradar a você. Porque ninguém tem que te agradar. As pessoas tem uma coisa chamada auto-estima, que na maioria das vezes já se encontra bem abalada, sem você nem precisar lembrá-las que não estão dentro dos padrões estúpidos da sociedade.
Torço pra que chegue o dia em que fazer cirurgias pra inserir material sintético no corpo pra ter seios fartos soe tão absurdo quanto nos soa a antiga tradição chinesa de comprimir os pés até sua deformação para que ficassem 'bonitos'. Em que se torne normal ter pessoas de várias etnias fazendo um papel relevante em novelas, filmes, séries, livros; em que revistas femininas
deixem de dar dicas de dietas mágicas mágicas, e passe a falar em se aceitar.

Enfim, o post tá com um bando de ideia um tanto desconexas. Sabe quando tem um bocado de coisas pra você falar, e você tem um bocado de ideias a respeito, o assunto dá lugar a milhares de nuances, que você acha que deve explorar, e você acaba falando nada com nada, e deixando o mais importante de fora? Então, tipo isso que tá acontecendo. Desculpem e até a próxima :*

5 comentários:

  1. Adorei o post! Eu tenho uma longa história de experiências pessoais com relação a essa questão de padrão de beleza. Só abri meus olhos há pouco tempo, tempo no qual resolvi para de fazer relaxamento no meu cabelo (processo que comecei a fazer quando tinha 3 anos, nem sabia o que era aquilo ainda) e resolvi deixá-lo natural. Descobri que meu cabelo é forte, saudável e cresce super rápido, além de formar uns cachinhos pequenininhos, mas bem legais. Ainda é um pouco estranho assumir os meus cabelos como eles são, mas eu tenho em mente que essa sou eu, simples assim.
    Dá uma dó de ver pessoas com o cabelo cacheado fazendo loucuras como escova progressiva, escova de não sei o que mais... Nas primeiras vezes pode até ficar legal, mas o cabelo vai enfraquecendo com o tempo, perdendo o brilho e com isso você também acaba se apagando...

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    1. Eu também comecei cedo nessa vida de relaxamentos, com uns 5 anos, mais ou menos. Hoje em dia, eu lamento por isso, estraga muito o cabelo, e nos últimos anos eu até me acostumei a sair com ele natural, mas confesso que tenho dificuldade de abrir dos relaxamentos.

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  2. 1 palavra pro nosso horrendo, limitado e inalcançável padrão de beleza: AFFFFFFFFFF

    Sério, acho que já fui meio que um fantoche dessas coisas, e hoje em dia não saio de casa sem arrumar a franja com chapinha, mas é simplesmente porque EU acho mais bonita arrumada. Idem a quando fiz mechas loiras: Tava com vontade de mudar, e eu gostei. O meu cabelo é cacheado/ondulado e com essas mechas, e hoje em dia eu adoro e é o que basta pra mim. :)

    E uma ressalva: "Torço pra que chegue o dia em que fazer cirurgias pra inserir material sintético no corpo pra ter seios fartos soe tão absurdo quanto nos soa a antiga tradição chinesa de comprimir os pés até sua deformação para que ficassem 'bonitos'. " Essa frase foi perfeita.

    Beeeijos <3

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  3. A vida inteira eu ouvi minha mãe (e outros parentes) dizerem: você tem um rosto lindo e ia ficar mais linda se emagrecesse. Eu sempre estive acima do "peso ideal", mas quando eu fazia os exames, eu estava saudável. Levei anos para aprender a me aceitar e ainda é dificil. Não é todo o dia, não é fácil se aceitar num mundo com esses padrões tão radicais. Mas eu sei que sou uma "gorda" (44 é gorda?) com mais saúde e com certeza mais feliz que muita magra por ai. E não é isso que devia ser mais importante?
    Parabéns pelo texto, expressou tudo o que eu penso.

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  4. Eu acho que se uma pessoa quer emagrecer, alisar o cabelo ou colocar silicone ela deve fazer por ela mesma. Porque às vezes é assim, você se olha no
    espelho e vê que tem alguma coisa ali que não tá coerente com sua personalidade.
    Que nem quando eu pintei meu cabelo de preto, todo mundo disse que tava bonito mas eu simplesmente... não me via ali. As pessoas devem se achar bonitas e devem fazer isso por elas mesmas.
    Porque a verdade é que se você não tem auto estima agora, 10 kg mais magra com cabelo liso e silicone você também não vai ter, porque isso é uma coisa interna, não externa. Daí você vai querer emagrecer mais, colocar mais silicone etc etc etc quando podia ter aprendido a se aceitar bem antes disso tudo.

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